Berzerk (Stern, 1980 - Arcade)

"O jogo foi batizado sob a influência do romance de ficção científica "Berzerkers", de Fred Saberhagen. É uma história sobre Robôs que enlouquecem e matam todo mundo. Lembro-me de que o nome foi sugerido num engarrafamento da rodovia Kennedy, em Chicago". Quem profere as sábias palavras acima é o criador do clássico Berzerk, Alan McNeil. A novela de ficção científica que inspirou o jogo é sobre uma corrida de robôs sanguinários, construídos por seres antigos para destruírem toda a vida e a resistência humana que ainda os combate (aqui, no caso, o jogador solitário).

Berzerk chamaria a atenção pelo emprego de voz digitalizada, nos arrotos metálicos dos ciclopes de lata. "Os humanóides não devem escapar"; "Matem os humanóides", são algumas variações do imenso vocabulário de 30 palavras de um robô no ano de 1980. Alan McNeil se recorda das dificuldades fonéticas de suas máquinas: "Isso era feita numa época onde as falas e memória eram caras, e nós não podíamos simplesmente digitalizar os sons, e colocá-los em dumping através de um DAC. Lembro de que a compressão de uma única palavra ficava em torno de uns US$ 1.000, então tentamos nos virar com um vocabulário limitado, que poderia ser rearranjado e reusado o máximo possível. Havia um cara no Vale do Silício que fazia esse tipo de coisa pra viver."

O NOVO DISFARCE DE SATANÁS

Com uma jogabilidade simples, considerada por muitos como viciante, o objetivo é se manter vivo o máximo possível, nos labirintos de muros eletrificados do planeta Mazeon. O herói é o único sobrevivente de uma equipe de exploradores humanos, numa terra infestada de robôs brutamontes, que também terá que matar, em maior número possível. Essas criaturas denominadas Automazeons, destruíram a nave, e não há mais nenhuma saída a não ser sobreviver ali mesmo.

Mesmo que todos os robôs sejam eliminados em uma sala, nosso homem mal tem tempo de recuperar suas forças. Evil Otto, a mente ensandecida por trás das gangues de robôs, onipresente em todas as batalhas, surge como um demônio no labirinto. Ele atravessa as paredes, e dispara uma gargalhada de maníaco, sob sua carinha feliz e sorridente. Considerado um dos vilões mais intimidadores e cruéis de toda a história do videogame, era também conhecido por muitos como "a bola de basquete maliciosa". Evil Otto foi inventado para convencer o jogador a deixar a sala, após ter eliminado todos os robôs. 

Dessa forma não há como relaxar durante uma partida de Berzerk. "Nós queríamos exterminar os jogadores o mais rápido possível, e provocar o replay da partida", diz Alan McNeil. "Aliás, Evil Otto deriva de um ex-colega de trabalho chamado Dave Otto, antes de nos juntarmos à Stern. Nós trabalhamos juntos no projeto do Bally Professional Arcade, um dos primeiros sistemas de videogame caseiro. Costumávamos chamá-lo de xerife, pois era ele que fazia o papel do segurança, e era responsável pelo café, papel higiênico e etc..."

A DOCE INSANIDADE DE BERZERK

É bom salientar que há os maiores motivos para se considerar Berzerk aditivo, a começar pela própria publicidade das máquinas engolidoras de fichas que abrigavam o universo dos robôs assassinos. No anúncio do jogo nos fliperamas, estava escrito o seguinte: "Se você acha que nós ficamos loucos ao desenvolver Berzerk, você está certo!". 

Decerto, o caminho deste jogo seria esse. Pessoas que criam um jogo no final dos anos 70, cujo aterrador algoz é um "smiley-face" que controla o fluxo do pó colombiano, têm realmente muita imaginação. Mesmo que esse pó seja de café. São grandes idéias inspiradas no cerco de biombos estrambóticos, por gente que viveu confinada numa colméia de cubículos nos produtivos anos da juventude.

Para completar o bizarro universo que envolve Berzerk, só faltava mesmo alguém vender um hit musical baseado no jogo. Aliás não faltou por muito tempo, e Goin' Berzerk emplacou como uma das faixas de sucesso do álbum Pacman Fever (de letras com temas de videogames). A canção deve ter levado muitos jovens americanos a assobiar a melodia, ou a cantarolar as pérolas poéticas da dupla Buckner e Garcia: 

"I can move in eight directions / Once I start I'm never done; / I can go from room to room / I can crawl or I can run." (E o coro:) "I think I'm goin' berzerk. I think I'm losing my mind / I'm getting lost in the shuffle. It happens everytime / I think I'm goin' berzerk. Would you like to come too? / I can't stop now, I'm addicted. I'm berzerk over you.".

Continua »»»