O criador de Rayman e Beyond Good & Evil, Michel Ancel, revelou os motivos pelos quais o desenvolvimento de Beyond Good & Evil 2 estagnou. Segundo ele, a culpa foi dos egos e visões conflitantes de algumas das lideranças do projeto.
Beyond Good & Evil 2 foi anunciado em 2008 e apresentado ao público quase dez anos depois, em 2017, mas desde então desapareceu completamente. Aparentemente, o desenvolvimento foi reiniciado com uma nova equipe, que não conta mais com Ancel, que deixou a Ubisoft em 2020 para trabalhar em um santuário de vida selvagem.
Em uma nova entrevista ao site Superpouvoir, Ancel trouxe luz à situação do desenvolvimento de Beyond Good & Evil 2 e revelou que a paixão dos líderes do projeto, que não conseguiam chegar a um consenso, acabou inviabilizando o jogo.
“Em alguns projetos, nos propomos grandes desafios e enfrentamos equipes com paixão, mas sem saber quão longo e complexo será o caminho à frente”, explicou Ancel. “A paixão é uma energia fabulosa, mas também pode levar a conflitos entre entusiastas. Em Beyond Good & Evil 2, por exemplo, houve muitos problemas entre gerentes”.
“O diretor de arte queria refazer tudo várias vezes, o diretor do jogo queria fazer um jogo de masmorra gerado e eu estava sonhando com uma aventura espacial. Simplesmente não conseguíamos chegar a um acordo, e o diretor do jogo levou o projeto para outras direções”.
“Nesse tipo de situação, as equipes são jogadas de um lado para o outro e nem sabem quem está no comando e quem está tomando as decisões. O produtor deveria colocar ordem na situação, mas isso não aconteceu. Yves Guillemot até teve que ir até Montpellier para colocar as coisas nos trilhos, mas isso não foi o suficiente, e o diretor do jogo continuou em sua teimosia”.
Ancel também aproveitou para desmentir uma reportagem do jornal francês Libération, que o acusou de ser uma liderança “tóxica” e o motivo pelo qual o desenvolvimento de Beyond Good & Evil 2 estagnou.
“Quando li no Libé que eu era o responsável pelo jogo e pedia mudanças, pensei que ia engasgar”, ele lembrou. “Beyond Good & Evil 2 é o único jogo em que acho que nunca questionei uma decisão. Ficaria feliz em discutir isso com qualquer detrator. No final das contas, é tudo um caso de gerentes apaixonados que não se dão bem. Acredito que há algum tempo, essas pessoas foram demitidas e o projeto encontrou um certo equilíbrio com novos gerentes”.
“Esses problemas de gerenciamento são, obviamente, muito prejudiciais para as equipes. Tudo isso mostra que não é um trabalho fácil — muitos egos e muito em jogo, com claramente espaço para melhorias em termos de gerenciamento humano”.
“Não havia apenas um grande vilão, mas toda uma série de questões-chave que permaneceram sem solução no nível de gerenciamento, incluindo eu. Tenho minha parcela de responsabilidade e deveria ter defendido melhor o projeto, sido mais presente e mais conciliador com a equipe”.
Em 2020, o CEO da Ubisoft, Yves Guillemot, afirmou que o desenvolvimento de Beyond Good & Evil 2 estava progredindo “muito bem” sob a nova liderança. Mas desde então nenhuma novidade foi divulgada oficialmente.