Os fundadores do estúdio Unknown Worlds iniciaram um processo na justiça contra a editora Krafton, alegando terem sido demitidos sem justa causa, com o propósito de atrasar o acesso antecipado de Subnautica 2 e, assim, evitar o pagamento de um bônus de US$ 250 milhões.
O processo protocolado em 10 de julho por Charlie Cleveland, Max McGuire e Ted Gill contra a editora coreana afirma que as demissões foram exclusivamente motivadas pelo objetivo de evitar o pagamento de US$ 250 milhões em earn-out com base no desempenho do estúdio. A Krafton já havia pagado US$ 500 milhões na aquisição do Unknown Worlds em outubro de 2021, um valor que a editora mais tarde considerou fora da realidade do mercado.
Noventa por cento do bônus de US$ 250 milhões seria alocado aos três ex-executivos que, no entanto, concordaram em compartilhá-lo com o restante do estúdio. A meta de performance atrelada a este bônus deveria ser atingida ainda em 2025, o que dependeria do lançamento de Subnautica 2 este ano.
Surgiu então um conflito sobre a noção (bastante subjetiva) de se Subnautica 2 estaria “pronto” para estrear em Acesso Antecipado este ano. A Krafton, que adiou o lançamento para 2026, afirma que o jogo ainda precisa de conteúdo, enquanto os três executivos demitidos estão convictos de que o jogo estava em condições de ser lançado no modelo de acesso antecipado.
Na semana passada, a Krafton criticou abertamente os ex-executivos por “abdicarem de suas responsabilidades” no desenvolvimento de Subnautica 2, apesar dos valores exorbitantes investidos. “A falta de uma liderança central levou a repetidas confusões na direção do projeto e a atrasos significativos no cronograma geral”, afirma a editora.
Ontem, a Krafton confirmou aos funcionários do estúdio que o cronograma de pagamento da sua parte do bônus de desempenho (US$ 25 milhões) seria estendido até o final de 2026, para compensar o adiamento de Subnautica 2. Apesar dessa promessa de boa-fé, a Krafton não estendeu o prazo para o pagamento de US$ 225 milhões destinado aos fundadores.
Em seu processo, o trio de fundadores deve demonstrar, entre outras coisas, que Subnautica 2 estava realmente pronto para ser lançado em 2025. Para isso, eles contam com “críticas muito boas” recebidas durante os testes, que envolveram “centenas de usuários reais dedicando milhares de horas” a uma versão de desenvolvimento do jogo.
De acordo com o processo visto pelos jornalistas do site Game File e a Bloomberg, as relações entre as duas partes eram boas até uma série de reuniões no início de 2025, durante as quais o ex-CEO Ted Gill negociou com a Krafton o pagamento de bônus aos funcionários que não eram elegíveis segundo os termos iniciais da aquisição. Aproximadamente 40 funcionários presentes no momento da venda do estúdio (em outubro de 2021) foram informados de que receberiam bônus, frequentemente na faixa de seis ou sete dígitos, mas a gerência também queria recompensar os funcionários contratados posteriormente.
Charlie Cleveland afirma ainda que o CEO da Krafton, Changhan Kim, expressou abertamente sua relutância em pagar o bônus de desempenho durante uma reunião de negócios em 20 de maio de 2025. Durante o almoço, Kim teria confidenciado que, se a Unknown Worlds lançasse o jogo dentro do prazo, as consequências poderiam ser “financeiramente desastrosas e muito embaraçosas para a Krafton”, que teria sido obrigada a adicionar US$ 250 milhões aos US$ 500 milhões já gastos em 2021. A Krafton negou posteriormente, explicando que os comentários do CEO foram mal interpretados pelos tradutores.
Subnautica 2 é o segundo título mais antecipado pelo público no Steam, com 2,5 milhões de pessoas adicionando-o à sua lista de desejos, o que reforça o argumento do trio de fundadores do Unknown Worlds. Além disso, o Subnautica original, lançado recentemente para dispositivos móveis, também será portado para o Switch 2, gerando receita adicional. Em 8 de abril, Jin Oh, chefe global de publicação da Krafton, teria dito aos fundadores que a previsão era vender de 2 a 3 milhões de cópias de Subnautica 2 até o final de dezembro de 2025. Tais números de vendas acionariam automaticamente o pagamento integral dos US$ 250 milhões.
No processo, os ex-funcionários afirmam que a Krafton estava prestes a pagar esse prêmio elevado, mas os fundadores começaram a ouvir este ano que a editora coreana estava considerando adiar o jogo, sem qualquer motivo válido. Ao longo de maio e junho, as tensões aumentaram. Os autores acusam a Krafton de suspender intencionalmente certas tarefas relacionadas à publicação do jogo, incluindo marketing e pagamentos a contratados. A antiga administração alega que a editora se recusou a apoiar o lançamento do jogo no verão e que o Unknown Worlds perdeu oportunidades promocionais “altamente valiosas” porque a Krafton não estava respondendo aos e-mails.
Ted Gill teria sido até mesmo informado por um executivo sênior da Krafton que “retirar esses recursos era uma forma legal da Krafton evitar o pagamento do bônus”, de acordo com a denúncia. Quanto ao “projeto pessoal” que Krafton acusou Charlie Cleveland de priorizar em relação ao jogo, tratava-se, na verdade, de um filme de Subnautica, um projeto que Krafton havia pedido ao estúdio para desenvolver. Para Charlie Cleveland, Max McGuire e Ted Gill, não há dúvida de que a Krafton utilizou todos os meios possíveis para atrasar o jogo apenas para evitar o pagamento dos US$ 250 milhões.
De acordo com a denúncia, a produtora sul-coreana chegou a tentar negociar um pagamento menor do que o estipulado no contrato no final de junho, antes de demitir os três executivos em 1º de julho. “Esse esforço coordenado teve como objetivo atrasar o jogo e minar o earn-out”, afirma a denúncia. A Krafton reconheceu publicamente que os testes de Subnautica 2 “correram muito bem”, mas também que ainda havia pontos a serem melhorados e que o conteúdo era insuficiente.