Cada vez maior em sua atuação como editora de jogos, mas com dificuldades de competir no mercado de hardware com o Xbox, a Microsoft está em uma situação semelhante àquela vivida pela Sega no início dos anos 2000, quando a empresa desistiu de fabricar consoles para focar na produção de jogos. Este paralelo com a Sega foi lembrado pelo ex-presidente da Sony Interactive Entertainment e atual consultor estratégico da Tencent, Shawn Layden, em entrevista para o podcast Kiwi Talkz.
Um destino parecido com o da Sega nos anos 2000 parece inevitável para a Microsoft a esta altura, e Layden não vê isso como uma situação dramática para empresa, mas algo que está se desenhando naturalmente.
Na semana passada, a consultoria americana Circana revelar que as vendas do Xbox Series X|S nos Estados Unidos – o principal mercado do console – foram inferiores às do Xbox One em estágio equivalente de seu ciclo. E o Xbox One foi considerado um console mal sucedido diante dos investimentos feitos pela Microsoft.
Enquanto a Circana divulgava desses dados, a Microsoft anunciava que Forza Horizon 5, um dos exclusivos mais relevantes do Xbox, será lançado para PS5 em breve, comprovando que a estratégia multiplataforma está bem traçada e será acelerada este ano.
“Multiplataforma é uma estratégia como qualquer outra, especialmente em um mundo onde os custos de desenvolvimento estão aumentando drasticamente”, comentou Layden. “O que isso faz com a marca deles? Isso torna mais difícil criar o FOMO (medo de perder) que você está tentando criar ao atrair todos para sua plataforma dizendo: ‘Se você não está aqui, você não está aqui’. Mas se os jogos estiverem disponíveis em todas as plataformas, essa é uma tática de marketing que você não pode mais usar”.
Por que comprar um Xbox Series X|S se todos os jogos do catálogo exclusivo do console seriam exportados para a concorrência a longo prazo? Na Microsoft, a resposta sempre foi a mesma: é o Game Pass. Enquanto o Game Pass for um serviço exclusivo para PC e Xbox Series X|S, o hardware da Microsoft deverá permanecer relevante para os jogadores.
Dito isso, Layden traça uma ligação direta entre a estratégia atual da Microsoft e a que a Sega adotou quando parou de oferecer hardware para se concentrar na publicação de jogos: “Já vimos isso antes. Eu estava na indústria quando a Sega portou seus jogos do Dreamcast para o PS2. Com o tempo, a Sega se tornou uma empresa puramente orientada a software e passou por uma grande transformação nesse sentido. Então há um precedente histórico”.
Hoje, a Sega se consolidou como uma grande editora, oferecendo em algumas de suas filiais como a Atlus e Ryu ga Gotoku Studio produtos que acumulam grandes vendas, além de excelentes críticas de jogadores e da imprensa. E isso sem levar em conta o avanço multimídia da editora, com o enorme sucesso da série Sonic nos cinemas.
Para Shawn Layden, apesar do hardware do Xbox ainda existir no mercado, a posição da Microsoft na batalha já está bem definida e a empresa agora é “um provedor de entretenimento”. Então vem a analogia óbvia com a indústria cinematográfica e a indústria de streaming: “Se pensarmos bem, a analogia seria que o PlayStation é a HBO, a Microsoft é a Netflix e a Nintendo é a Disney. Sua missão é, portanto, oferecer conteúdo interativo e envolvente ao maior número possível de pessoas”, conclui Layden.