Uma nova reportagem da Bloomberg trouxe à tona uma preocupação que há anos ronda a estratégia da Microsoft para o setor de games: até que ponto o Xbox Game Pass pode se sustentar como modelo de negócios? Segundo a publicação, a decisão de lançar Call of Duty: Black Ops 6 diretamente no serviço de assinatura custou à empresa cerca de US$ 300 milhões em receita perdida, valor calculado a partir de projeções internas da própria companhia.
Embora o lançamento tenha quebrado recordes de engajamento e gerado o maior número de novas assinaturas do Game Pass em um único dia, o resultado financeiro mostrou-se menos animador. A Bloomberg aponta que 82% das vendas a preço integral de Black Ops 6 ocorreram no PlayStation 5, o que deixou claro que a presença do título no Game Pass não apenas reduziu o potencial de vendas no Xbox, como falhou em transferir participação significativa de mercado para a plataforma da Microsoft.
Para analistas, o problema central está na chamada “canibalização”: ao incluir grandes lançamentos no serviço, a Microsoft compromete a receita que antes vinha das vendas tradicionais. De acordo com estimativas do site Kotaku, para compensar a perda de US$ 300 milhões, o Game Pass precisaria conquistar 15 milhões de novos assinantes Ultimate em um ano — algo equivalente a 1,25 milhão por mês, meta considerada irrealista mesmo antes dos recentes aumentos de preço do serviço.
O desafio torna-se ainda mais evidente diante do contexto recente da divisão Xbox. Além da perda de receitas, a Microsoft promoveu demissões em massa em seus estúdios parceiros e elevou significativamente o valor da assinatura do Game Pass Ultimate, que praticamente dobrou em pouco mais de um ano. Esses fatores, somados à falta de transparência sobre o número atualizado de assinantes — oficialmente, a Microsoft só revelou o marco de 34 milhões de usuários em 2024 —, ampliam as dúvidas sobre a real saúde do modelo.
A situação não passou despercebida por Lina Khan, ex-presidente da Comissão Federal de Comércio (FTC). Em publicação no X, Khan afirmou que o atual cenário — marcado por cortes de pessoal, aumentos de preço e sinais de perda de competitividade — confirma os riscos que a agência já havia apontado ao tentar bloquear a aquisição da Activision Blizzard em 2023. “A concentração de mercado e o aumento de preços costumam andar de mãos dadas. Quando as empresas se tornam grandes demais para se preocuparem com as consequências, a qualidade do serviço inevitavelmente sofre”, escreveu.
Apesar das críticas, a Microsoft continua apostando no Game Pass como motor central de sua estratégia. Resta saber se, com perdas bilionárias de receitas de franquias como Call of Duty e a insatisfação crescente de jogadores e estúdios, o modelo conseguirá provar-se sustentável no longo prazo.
Microsoft’s acquisition of Activision has been followed by significant price hikes and layoffs, harming both gamers and developers.
As we’ve seen across sectors, increasing market consolidation and increasing prices often go hand-in-hand.
As dominant firms become… https://t.co/FoI50tlEsL
— Lina Khan (@linamkhan) October 3, 2025