O chefe da FromSoftware, Hidetaka Miyazaki, trouxe mais detalhes de The Duskbloods, o meio-sucessor-espiritual de Bloodborne que chamou a atenção na apresentação do Switch 2 na quarta-feira.
Em entrevista ao site oficial da Nintendo, o diretor de The Duskbloods disse que a ideia do jogo foi apresentada à Nintendo há alguns anos e começou a tomar forma como um título para o Switch original, desenvolvido por uma equipe pequena, mas acabou migrando para o Switch 2 depois que a Nintendo apresentou seus planos para o multiplayer no novo console.
“No começo, ele estava sendo desenvolvido por uma pequena equipe como um título para o Nintendo Switch”, contou Miyazaki. “Mas, assim que o jogo começou a tomar forma, fomos abordados pela Nintendo com conversas sobre o Switch 2, o que nos levou a adaptar nosso plano de desenvolvimento para esse novo hardware. O foco do novo hardware em recursos online nos permitiu permanecer o mais fiéis possível à visão original, o que foi uma ótima notícia para nós”.
The Duskbloods será um jogo com foco em multiplayer online, definido por Miyazaki como um título PvPvE — onde jogadores enfrentam tanto outros jogadores quanto inimigos controlados pela inteligência artificial. Essa estrutura, segundo ele, abre espaço para maior criatividade no design de encontros e ambientes, aproveitando a expertise do estúdio em criar desafios memoráveis.
No entanto, Miyazaki fez questão de esclarecer que isso não significa uma mudança definitiva na direção da FromSoftware:
“Gostaria de esclarecer algo. Este é um título com foco em multiplayer online, mas isso não significa que a empresa está abandonando os jogos singleplayer”, afirmou. “Ainda pretendemos desenvolver ativamente títulos focados em experiências solo, como Elden Ring, que também terá uma versão para o Switch 2”.
Em The Duskbloods, os jogadores assumem o papel dos “Bloodsworn”, seres com habilidades sobre-humanas obtidas através de um sangue especial. Inspirados em vampiros, mas reinterpretados de maneira mais romântica e simbólica, esses personagens lutam pela posse do “First Blood” durante um evento chamado “Twilight of Humanity”.
O jogo não se prende a um único cenário ou época: os mapas vão desde ambientes góticos e vitorianos até períodos modernos em declínio, criando uma atmosfera variada e densa, como visto no trailer com um trem cruzando uma paisagem decadente.
Embora o sangue esteja no centro da narrativa, Miyazaki explica que seu uso é mais conceitual do que gráfico:
“O sangue simboliza um dos temas centrais do jogo — a história que carrega, o poder que transmite, os destinos que entrelaça e a marca de quem transcendeu sua própria humanidade”.
Aprofundando no sistema de jogo, Miyazaki assegurou que The Duskbloods carregará o DNA característico do estúdio, com profundidade, desafio e estilo.
No coração do jogo estão os Bloodsworn, personagens que possuem habilidades sobre-humanas concedidas por um sangue especial. Essas habilidades não apenas influenciam o combate, mas moldam toda a experiência de movimentação e interação com o mundo do jogo.
“Mesmo ações básicas como correr, super pular e dar duplo salto foram projetadas para serem dinâmicas e sem fricção”, explicou Miyazaki. “Cada personagem possui armas e habilidades únicas, o que permite uma grande liberdade criativa para os jogadores”.
Pela primeira vez em um título da FromSoftware, todos os personagens têm acesso a ataques de longo alcance — incluindo o uso de armas de fogo —, adicionando uma camada estratégica inédita ao combate.
The Duskbloods contará com mais de uma dúzia de personagens jogáveis, cada um com identidade própria, estilo visual distinto e arsenal exclusivo. Para Miyazaki, o design desses personagens é um dos atrativos principais do jogo, e os jogadores poderão encontrar aqueles que mais combinam com seu estilo.
Além disso, há um sistema de customização que permite aos jogadores ajustarem seu personagem, mantendo o popular conceito de “builds” dos jogos da FromSoftware.
O jogo adota uma estrutura baseada em um hub, onde os jogadores escolhem seus personagens, os personalizam e entram em partidas multiplayer online com até 8 participantes. Após cada partida, os jogadores retornam ao hub e recebem recompensas, independentemente do resultado, que podem ser usadas para novas customizações.
“As partidas são geralmente no formato ‘último sobrevivente’, mas em certas ocasiões o objetivo muda — como enfrentar chefes poderosos em equipe”, revelou Miyazaki. “A vitória pode vir tanto do PvP quanto do PvE.”
Para além do combate direto, The Duskbloods também valoriza o comportamento tático e oportunista dos jogadores. O sistema de Victory Points determina o vencedor da partida, mas os pontos podem ser conquistados de diversas formas — desde eliminar oponentes até evitar conflitos e aproveitar situações do mapa.
“Como os jogadores se comportam durante a partida é tão importante quanto o combate em si”, explicou o chefe da FromSoftware. “Você pode pontuar agindo de forma mais estratégica e menos combativa, se quiser”.
Cada personagem também pode invocar uma entidade auxiliar durante o combate, o que oferece ainda mais possibilidades táticas e estilos de jogo.
Adicionalmente, o sistema de eventos dinâmicos promete alterar completamente a dinâmica das partidas. Um exemplo citado por Miyazaki é a aparição de uma gigantesca face de pedra no céu — um evento especial que muda o ambiente e os objetivos da partida, oferecendo recompensas adicionais e forçando os jogadores a repensarem suas estratégias em tempo real.
Apesar do foco em multiplayer, The Duskbloods foi pensado para ser acessível e divertido até mesmo para quem normalmente evita o PvP.
“Eu mesmo não sou muito fã de PvP”, confessou Miyazaki. “Por isso quisemos criar algo que também fosse satisfatório para jogadores como eu”.
Além do objetivo central de obter o First Blood, o jogo também oferece metas secundárias e recompensas individuais, incentivando diferentes formas de engajamento com o jogo e permitindo que cada partida tenha seu valor, mesmo sem uma vitória final.
Abordando o “lore” e as típicas narrativas fragmentadas que caracterizam os jogos da FromSoftware, Miyazaki disse que The Duskbloods seguirá com a intenção de deixar o jogador montar as peças da história por conta própria, mas com um toque inovador.
“Dessa vez, os fragmentos de lore estão integrados ao sistema de customização do personagem — mais precisamente, ao histórico e destino sanguíneo deles”, explicou Miyazaki. “Personalizar um personagem revela informações sobre o mundo e a história em andamento”.
Ao manipular o histórico de sangue e destino de um Bloodsworn, o jogador não altera apenas aspectos visuais ou estatísticos, mas também suas conexões narrativas com o universo do jogo. Essa mecânica reforça o tema central do título — o sangue como símbolo de poder, história e destino — e oferece uma abordagem mais profunda à customização.
Um dos elementos mais intrigantes revelados nesta etapa da entrevista é o sistema de papéis, que adiciona objetivos e relacionamentos únicos entre jogadores durante as partidas online.
“Papéis dão aos jogadores responsabilidades especiais, e muitas vezes resultam em interações únicas baseadas nesses papéis”, comentou Miyazaki.
Entre os exemplos mencionados estão:
Destined Rivals: um jogador é ligado a outro como rival, e seu objetivo pessoal é derrotá-lo durante a partida.
Destined Companion: jogadores são emparelhados como companheiros, e formar um laço entre eles garante recompensas especiais.
Esses papéis, atribuídos via o sistema de sangue, permitem que jogadores interpretem literalmente seus personagens — uma clara inspiração em jogos de RPG de mesa, como o próprio Miyazaki admitiu.
“Pode parecer pouco ortodoxo no início, mas espero que os jogadores deem uma chance”, disse, traçando paralelos com os sistemas de RPG clássicos.
Os fãs atentos ao trailer de The Duskbloods notaram a presença de um rato alado peculiar. Segundo Miyazaki, esse personagem ocupa uma função semelhante à das Fire Keepers da série Dark Souls, oferecendo conselhos e suporte no hub central do jogo.
“Tentamos fazer algo um pouco mais… fofo”, brincou Miyazaki. “Apesar disso, o personagem é na verdade um senhor de idade (risos)”.
A decisão de incorporar um toque mais leve ao design do personagem é, segundo Miyazaki, um reflexo da parceria com a Nintendo — uma tentativa de equilibrar o tom sombrio habitual com algo mais acessível e simpático.
The Duskbloods será lançado exclusivamente no Switch 2 em 2026.