O Tribunal Penal de Bobigny, na França, julgou três ex-executivos da Ubisoft por acusações de assédio, muitas vezes de cunho sexual. Os condenados são Serge Hascoët, ex-diretor editorial e figura central da empresa; Tommy François, ex-vice-presidente do Serviço Editorial e protegido de Hascoët; e Guillaume Patrux, diretor do jogo AGOS: A Game of Space. As denúncias, que vieram à tona em julho de 2020 por reportagens do jornal Libération, expuseram comportamentos abusivos, com destaque para as ações de Tommy François, que incluíam desde assobios a colegas até atitudes como ordenar que uma funcionária fizesse acrobacias em público, exibir vídeos pornográficos em computadores da empresa e tentar forçar contato físico com uma colaboradora.
Tommy François recebeu a sentença mais severa: três anos de prisão suspensa e multa de 30 mil euros. Durante o julgamento, ele tentou se defender alegando que seu comportamento era reflexo da “cultura interna” da Ubisoft, argumento que não convenceu o tribunal. Serge Hascoët, ex-braço direito do CEO Yves Guillemot, foi condenado por cumplicidade em assédio moral, com pena de 18 meses de prisão suspensa e multa de 45 mil euros. A acusação de assédio sexual contra ele não foi mantida, por falta de provas suficientes. Já Guillaume Patrux recebeu 12 meses de prisão suspensa e multa de 10 mil euros por assédio contra sua equipe. O Ministério Público havia solicitado 15 meses de prisão para Patrux, mas o tribunal optou por uma pena mais leve.
Hascoët, que era um dos funcionários mais antigos da Ubisoft e atuou como diretor de criação entre 2000 e 2020, influenciando franquias importantes como Far Cry e Assassin’s Creed, foi acusado de comportamento obsceno e por ter o hábito de fazer comentários considerados racistas. A acusação citou casos como quando ele teria perguntado a uma funcionária muçulmana se ela apoiava o Estado Islâmico, e por ter sido responsável por uma brincadeira com a imagem de desktop para PC da funcionária ser substituída por fotos de sanduíches de bacon, bem como comida sendo colocada em sua mesa durante o Ramadan.
Até o momento, os sindicatos, como a Solidaires Informatique, não emitiram comunicados oficiais sobre o veredito. No entanto, em junho de 2025, o sindicato anunciou que emitiria uma citação direta contra o CEO Yves Guillemot, a diretora de RH Marie Derain e a Ubisoft como pessoa jurídica, buscando responsabilizá-los pelo caráter sistêmico do assédio na empresa. Segundo o sindicato, as práticas reveladas no julgamento apontam para uma cultura corporativa que, em muitos casos, banalizava abusos, especialmente contra mulheres e minorias.
Os condenados ainda não informaram se pretendem recorrer da decisão.