Uma nova reportagem publicada pela Bloomberg revela que o chefe do departamento de criação da Ubisoft demitido recentemente da empresa por assédio sexual foi, ao longo dos últimos anos, um entrave à introdução de protagonistas femininas na série Assassin’s Creed.
O veterano chefe de criação Serge Hascoët estava na Ubisoft desde 1988 e é amigo próximo do fundador da editora, Yves Guillemot. Ele foi demitido no começo do mês após uma onda de acusações de má conduta sexual na empresa.
De acordo com a Bloomberg, Hascoët supervisionava toda a produção de jogos da editora e era uma força de resistência aos planos dos designers de dar mais destaque a protagonistas femininas na série Assassin’s Creed.
Personagens femininas planejadas para os últimos três jogos de Assassin’s Creed tiveram seus papéis reduzidos ou foram completamente removidas, segundo as fontes da reportagem. Especificamente, elas mencionam que o papel de Evie em Assassin’s Creed Syndicate foi significativamente reduzido após intervenção de Hascoët. Em seguida, com Assassin’s Creed Origins, os designers queriam que o protagonista masculino Bayek morresse no início do jogo e fosse substituído por sua esposa Aya, mas esses planos também foram descartados por decisão da chefia do estúdio.
A resistência a mais protagonismo feminino prosseguiu no jogo mais recente da série, Assassin’s Creed Odyssey, onde Kassandra originalmente seria a única personagem jogável, até que a equipe foi orientada a criar um segundo personagem jogável masculino.
A Bloomberg afirma que todas essas diretivas vieram do departamento de marketing da Ubisoft ou de Hascoët, ambas justificadas sob alegação de que “protagonistas femininas não venderiam”.
Segundo as fontes da Bloomberg, os desenvolvedores se sentiram pressionados a incluir personagens masculinos fortes em seus jogos para passar pelo crivo de Hascoët, que era a principal autoridade criativa da Ubisoft e tinha a capacidade de alterar ou cancelar qualquer um dos projetos da empresa. Seus inimigos na Ubisoft também criticam o fato de sua equipe ter apenas homens nos papeis de liderança.
As acusações que culminaram com o afastamento de Hascoët incluem machismo e má influência na equipe editorial da Ubisoft, que teria transformado o estúdio em um clube de homens com “vídeos pornográficos em computadores, almoços embriagados e um repertório de piadas inapropriadas”. Por estar na Ubisoft desde o início e ser amigo pessoal do CEO, Hascoët seria, segundo as fontes da Bloomberg, imune às reclamações ao departamento de RH.
Ao anunciar mudanças nos quadros da empresa no começo do mês, Guillemot disse que “a Ubisoft não cumpriu sua obrigação de garantir um ambiente de trabalho seguro e inclusivo para seus funcionários”.
“Isso é inaceitável, pois os comportamentos tóxicos estão em contraste direto com os valores dos quais eu nunca abri mão – e nunca o farei”.