Em uma aparente correção de curso desde a apresentação de um plano de negócios muito controverso, a Unity anunciou que John Riccitiello está deixando o cargo de CEO da empresa e membro do conselho de administração. O ex-chefe da Electronic Arts, que resistiu por nove anos, será substituído interinamente por James M. Whitehurst, executivo vindo da IBM.
Veterano do mercado de games, Riccitiello foi um dos responsáveis pelo console 3DO no início dos anos 90 e se destacou por dois “stints” na Electronic Arts, de 1997 a 2004 e de 2007 a 2013. Entre suas passagens pela EA, ele também foi co-fundador do fundo Elevation Partners, em sociedade com Bono, vocalista do U2.
No comando da Unity desde o final de 2014, Riccitiello ajudou a empresa a aumentar dramaticamente seu volume de negócios, ainda que não tenha registado o menor lucro. Muito pelo contrário, suas perdas líquidas aumentam de ano para ano, sendo que em 2022 o caixa fechou com 900 milhões de dólares no vermelho. Sob Riccitiello, no entanto, as aquisições de empresas de tecnologia seguiram-se umas às outras, como foi o caso da Parsec, adquirida por 333 milhões de dólares, a Weta por 1,6 bilhões de dólares e a IronSource por 4,4 bilhões de dólares.
Apesar do crescimento dos negócios, o modelo económico da Unity, baseado até agora em uma assinatura, nunca permitiu à empresa participar dos lucros dos maiores sucessos criados em suas ferramentas, como Fate/Grand Order, Pokémon GO ou Genshin Impact – todos jogos que geraram bilhões de dólares em poucos anos sem dever muito ao Unity.
Foi para resolver esse problema que a empresa recentemente propôs, de forma bastante desajeitada, se tornar sócia dos produtos que ajuda a criar, ao anunciar aos desenvolvedores um sistema de débito baseado na quantidade de vezes que seu jogo é instalado em uma plataforma.
O anúncio do novo modelo de negócios caiu como uma bomba no meio dos desenvolvedores e provocou reações contundentes contra a Unity, forçando a empresa a rever seus planos rapidamente. Em uma semana, a Unity anunciou um novo sistema mais transparente e menos angustiante para pequenos estúdios. Basicamente, a partir de 2024, o Unity recuperará 2,5% das receitas dos jogos desenvolvidos usando os planos pagos do Unity (e apenas se o jogo gerar pelo menos um milhão de dólares ao longo do ano), enquanto os títulos desenvolvidos no Unity Personal (o plano gratuito) serão poupados. O sistema já não é tão escandaloso se comparado a concorrentes como o Unreal Engine, que não exige assinatura, mas fica com 5% da receita.
A saída (ou demissão) de John Riccitiello parece ser mais um gesto que visa uma reconciliação com a comunidade de desenvolvedores, que se sentiu fortemente traída. O anúncio da mudança no comando da Unity, porém, foi diplomático e prestou homenagem a Riccitiello, destacando o forte crescimento do volume de negócios e afirmando que a empresa ainda conta com ele para garantir a transição. “John liderou a Unity através de um crescimento incrível nos últimos 10 anos, ajudando-nos a passar de uma licença perpétua para um modelo de assinatura, permitindo que os desenvolvedores monetizassem, construindo outros serviços de jogos para servir a nossa comunidade de criadores, nos conduzindo através de um IPO e nos posicionando como pioneiros na comunidade de desenvolvedores. A Unidade não seria o que é hoje sem o impacto das suas contribuições”, comentou Roelof Botha, presidente do conselho de administração.
