Novos relatos sobre os bastidores da Ubisoft revelaram que conflitos entre parte da equipe de desenvolvimento e os executivos mais antigos da produtora, sempre envolvendo o protagonismo de mulheres na série Assassin’s Creed, eram recorrentes há anos.
No último mês a Ubisoft demitiu alguns de seus membros mais antigos em resposta a alegações de machismo e abusos feitas por funcionários. Entre eles está o diretor de criação Serge Hascoët, que estava na produtora desde 1988 e era visto como um entrave na adoção de mais protagonismo para as mulheres nos jogos.
Agora, um ilustrador que trabalhou para a Ubisoft na turnê de shows Assassin’s Creed Symphony revela que alguns de seus contatos no estúdio reclamavam de uma postura contrária às mulheres como protagonistas por parte do comando da editora em Paris, o que também teria aborrecido o ex-diretor de criação de Assassin’s Creed Valhalla, Ashraf Ismail. Este também foi afastado da Ubisoft por conta de denúncias de assédio sexual dentro e fora da produtora.
Segundo o novo relato, parte da equipe da Ubisoft queria uma Eivor exclusivamente mulher em Valhalla, mas a Ubisoft acabou por criar versões feminina e masculina do protagonista.
“Fui abordado por uma das vítimas de Ash (Ashraf Ismail) que me mostrou algumas conversas e confirmou algo que ainda não apareceu, mas que não surpreende ninguém”, escreveu o ilustrador Sebastian Dell’Aria. “Assim como para Syndicate, Origins e Odyssey, foi o desejo dos desenvolvedores que Valhalla apresentasse uma protagonista feminina. Exclusivamente.”
“Os executivos os impediram de fazer isso e forçaram a equipe a incluir uma versão masculina do Eivor, porque uma mulher sozinha não teria vendido, insistindo que a campanha de marketing deveria se concentrar no Eivor masculino. Vimos a Eivor feminina apenas muito tempo após a revelação de ACV”, escreveu ele.
“Sim, e nas últimas conversas com Ash que eu tive, perguntei o que diabos aconteceu com Eivor ser uma mulher?”, continuou o ilustrador. “E então ele me contou tudo. E ele também sublinhou que Eivor é um nome estritamente feminino. E isso é prova de que ela é/foi canônica. Mas os superiores simplesmente queriam um cara”.
Em outra mensagem extraída de uma conversa com alguém da Ubisoft, é revelado que a Ubisoft Paris era “literalmente insistente em que o protagonista fosse um macho alfa”.
Após a publicação dos relatos, o diretor de narrativa de Assassin’s Creed Valhalla, Darby McDevitt, foi ao Reddit para dizer que as alegações não são “totalmente precisas”.
“A história de ACVs foi concebida desde o início com mulheres e homens em mente”, escreveu ele. “Quando você joga, entende que não há como o homem ter sido adicionado no último minuto, ou qualquer versão dessa história que você tenha ouvido”.
“Obviamente, há mais nuances nisso tudo, mas ir mais fundo estragaria muitos mistérios no coração do jogo”, continuou ele. “Mas entenda isso, que começamos o ACV sabendo muito bem que a Ubi queria dar aos jogadores a capacidade de selecionar personagens, e trabalhamos duro para garantir que isso honrasse nossa tradição”.
Além de Ismail e Hascoët, a Ubisoft também afastou os executivos Tommy Francois, Maxime Beland, o diretor-gerente dos estúdios canadenses da Ubisoft, Yannis Mallat, e o chefe global de RH Cécile Cornet – todos alvos de denúncias envolvendo machismo e assédio sexual.
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— “Seiiki” Dell’Aria (@Memento_Gallery) August 4, 2020