Novamente entrevistado após sua saída do PlayStation em janeiro, Shuhei Yoshida revelou mais detalhes de sua jornada nos últimos anos, em especial como reagiu ao ser rebaixado na hierarquia da Sony, indo da chefia dos estúdios mundiais do PlayStation à função de fazer a ponte entre a empresa e os desenvolvedores independentes a partir de 2019.
Em 2019, a Sony anunciou que Yoshida estava deixando a presidência dos estúdios mundiais do PlayStation, cargo que passaria a ser ocupado por Hermen Hulst, para desempenhar o papel de cuidar do relacionamento com os desenvolvedores indies. Apesar do movimento para baixo na hierarquia da empresa, quando se especulava que Yoshida poderia até mesmo pleitear o posto de CEO do PlayStation eventualmente, o veterano Yoshida aceitou o cargo não apenas pela paixão que tinha pelos jogos independentes, mas principalmente porque era a única opção que a liderança do PlayStation deu a ele.
“Mudando de first-party para indies? Bem, eu não tive escolha”, disse Yoshida ao site VentureBeat. “Quando Jim (Ryan, então presidente do PlayStation) me pediu para fazer o trabalho indie, a escolha era fazer isso ou deixar a empresa. Mas eu tinha uma opinião muito forte sobre o estado do PlayStation e dos indies. Eu realmente queria fazer isso. Eu acreditava que poderia fazer algo único para esse propósito”.
Na época, a comunidade de pequenos estúdios reclamava da lentidão, falta de escuta, visibilidade e flexibilidade do PlayStation, além de dificuldades de visibilidade na PlayStation Store e impossibilidade dos estúdios controlarem diretamente as promoções e reduções de preços de seus jogos. A missão de Yoshida seria de mudar este cenário.
Cinco anos depois, Shuhei Yoshida acredita que muito trabalho foi feito internamente nessa área e que o PlayStation agora é um destino de escolha para empresas menores, cujas vendas de jogos estão indo muito melhor no PlayStation do que no passado.
“Alguns anos atrás, um dos motivos pelos quais consegui esse emprego com Jim foi porque a comunidade indie estava nos criticando. Ela disse que a PlayStation não se importava com jogos indie. Esse tipo de crítica não existe mais hoje em dia. No ano passado, muitos parceiros independentes nos disseram que seus novos jogos estavam vendendo mais no PlayStation do que em qualquer outra plataforma. Isso é incrível. Alguns jogos venderam mais no PlayStation do que no PC. Quando comecei este trabalho há cinco anos, nossos parceiros independentes diziam que, quando lançavam seus jogos multiplataforma, a versão para Switch vendia de três a cinco vezes mais que a versão para PlayStation. Pouco a pouco, essa lacuna foi diminuindo. Temos uma equipe forte dentro da empresa que apoia os indies”, disse Yoshida.
“Quando consegui este emprego, disse a Jim que não queria abrir um departamento. Já havia divisões suficientes na empresa. Coordenar um departamento já é difícil, eu não queria criar outro, então trabalhei com a organização existente. Meu objetivo pessoal ao assumir esse papel dedicado aos filmes independentes era tornar meu papel obsoleto. A empresa deveria ser tão boa nisso que não haveria necessidade de alguém como eu lembrar as pessoas de sua importância. Acho que nos saímos muito bem. Ainda há muito a fazer, mas as equipes estão cuidando disso. Com a saída de Jim e a chegada de Nishino e Hermen, eu estava confiante sobre o futuro do suporte indie. Então decidi ir embora”, acrescenta Yoshida.
Apesar do fim de sua aventura na PlayStation, Shuhei Yoshida lembra que não tem intenção de se aposentar e espera ainda poder levar sua experiência para desenvolvedores independentes como consultor. Sua saída no mês passado simboliza uma verdadeira mudança histórica na história da empresa, da qual todos os principais veteranos dos primeiros dias já partiram.
“Jim Ryan foi o último líder da nossa geração. Ken Kutaragi, Kaz Hirai, Andrew House, Shawn Layden, eu… estávamos todos no mesmo grupo desde os dias do PS1. Passamos a tocha para a nova geração de líderes, como Hideaki Nishino e Hermen Hulst”.